UTI - Cuidado humanizado do paciente crítico.

quarta-feira, outubro 06, 2010

Sindrome de Burnout

Exaustão emocional na saúde
Publicado em 03.10.2010 Pesquisa mostra que 30% dos médicos estão deprimidos.
Jornada excessiva e outras dificuldades levam ao problema, comum também aos
educadores

Veronica Almeida
Exaustão antes mesmo de iniciar o dia de trabalho. Angústia, ansiedade,
desânimo, isolamento e indiferença com os colegas. Esses sintomas clássicos da
síndrome de burnout foram identificados em pelo menos um terço dos médicos do
Hospital Estadual Jaboatão Prazeres, na Zona Oeste do Grande Recife. A pesquisa,
realizada no ano passado e divulgada agora, mostrou maior frequência dos sinais
da síndrome em plantonistas da emergência. Nesse setor, o índice de prováveis
portadores foi de 26%, contra 8% dos que atuam em ambulatório. A maior parte do
grupo é formada por mulheres.

“O problema é identificado entre médicos, mas atinge também enfermeiros e outros
profissionais de saúde”, diz o cirurgião-dentista Waldemir Borba, diretor do
Hospital Jaboatão Prazeres e autor da pesquisa, feita durante pós-graduação em
gestão de saúde pública, pela Universidade de Pernambuco. Para ele, os médicos e
outros trabalhadores da área estão sendo consumidos pelo estresse da função, a
longa jornada em múltiplos empregos e a difícil relação no ambiente de trabalho.

A amostra ouvida por Borba foi composta por 40 médicos, de 27 a 61 anos de
idade. Desse total, 60% atuam na emergência e 40% nas consultas marcadas. Dos
entrevistados, 68% eram do sexo feminino. Os plantonistas referiram sobretudo
sinais típicos da chamada exaustão emocional, como o cansaço e o esgotamento, o
traço inicial do transtorno. “Decorre principalmente da sobrecarga e do conflito
pessoal nas relações interpessoais”, explica Borba. Outros sinais identificados
têm a ver com a despersonalização, que se manifesta na insensibilidade
emocional. “A pessoa geralmente discute, vive de cara amarrada, trata colegas e
o público como objeto e se isola”, explica o pesquisador. O quadro evolui para a
perda de autoestima. “Ela não se sente vital no trabalho”, acrescenta.

Embora as leis trabalhistas já contemplem o mal como síndrome do esgotamento
profissional, não é fácil assumir a condição de portador. Há insegurança na hora
de pedir ajuda, por temer a exposição e a incompreensão com o estado. No caso
dos médicos, há outro agravante. “Mesmo sofrendo física e emocionalmente, eles
não procuram ajuda e tendem a se automedicar. Existe uma subnotificação dos
casos”, diz Waldemir Borba. Ele lembra que a doença psiquiátrica tem prevalência
maior entre médicos se comparado com a população geral.

ESTRUTURA
Para o pediatra intensivista Sílvio Rodrigues, presidente do Sindicato dos
Médicos de Pernambuco, a estrutura atual dos serviços e as relações de trabalho
no setor público e privado ajudam o profissional a sofrer de burnout. “No setor
público há uma sobrecarga de trabalho e limitações para exercício da profissão.
O médico vê pacientes morrerem sem condições de oferecer o ideal para eles, nos
ambulatórios encaminha a pessoa para exame e não tem retorno. No setor privado,
a autonomia é quebrada por terceiros, como os donos dos hospitais e planos de
saúde”, enumera.

Com 42 anos de idade e 17 de profissão, grande parte no setor público, Rodrigues
confessa que já sentiu o estresse de perto. Teve tempo em que entrava de plantão
no sábado e só chegava em casa na segunda-feira. “A gente se sente exausto,
ansioso, discute frequentemente”, descreve. Com os colegas, segundo ele, há
situação pior. “Vejo gente com enxaqueca ou taquicardia na véspera de assumir o
plantão, é uma ansiedade pré-trabalho”, afirma. Conforme Rodrigues, há
trabalhador tão exausto emocionalmente que às vezes não sabe sequer onde se
encontra.

Para ele, a prevenção da síndrome passa por uma carreira que garantisse ao
médico um único emprego no setor público, com boa remuneração. “Ele poderia
trabalhar de manhã e de tarde evoluindo pacientes nas enfermarias ou dando no
máximo dois plantões de 24 horas por semana”, sugere.

Nenhum comentário: