UTI - Cuidado humanizado do paciente crítico.

sábado, julho 17, 2010

História da Medicina

Fonte da Reportagem: SEMIOBLOG









"Nada sabe de sua arte aquele que lhe desconhece a história".
Goethe (1749-1832)



A História da Medicina desempenha um papel importante na educação dos médicos, embora ainda seja negligenciada nos currículos de graduação. A falta de interesse em medicina histórica por parte dos estudantes de Medicina espelha a atitude da maioria dos médicos, e faz surgir a pergunta pretensamente pragmática: "Que utilidade tem estudar a História da Medicina e em que vai me ajudar no tratamento dos meus pacientes?" Procuram-se benefícios tangíveis derivados do conhecimento da história.

Lichtenthaler (1978) afirma que "os conhecimentos profissionais por si fazem de vós simples técnicos e funcionários de saúde. [...] é só graças à consciência histórica que amadurecem de modo a tornarem-se personagens médicas". Esta frase é o equivalente de outra bem conhecida, cunhada por Abel Salazar, de que "médico que só sabe de Medicina, nem de Medicina sabe" (CUNHA, 1987).

A História da Medicina é uma parte da História dedicada ao estudo dos conhecimentos e práticas médicas ao longo do tempo. Desde suas origens, o ser humano tenta explicar a realidade e os acontecimentos trascendentais da vida, como a morte e a doença.

Alguns autores acreditam que o ensino de História da Medicina confere "refinamento" aos médicos. O estudo da História da Medicina aprimora a cultura geral do estudante, pois a mesma é parte da História Geral da Humanidade e o modo como a medicina é exercida reflete o grau de desenvolvimento científico, tecnológico e cultural de um povo.

A História da Medicina, em sua tríade conceitual, – histórica, filosófica e ética, – constitui disciplina fundamental à cultura e completa formação da mentalidade médica. Ela é indispensável para aquele que não se contenta em ser mero profissional de uma técnica e que aspira à dupla perfeição: do homem culto e do técnico intelectualmente ambicioso.

No século XIX, a união da História e da Medicina veio constituir nova ciência, a História da Medicina, disciplina da História Geral. Os clássicos da medicina passaram a ser lidos não como fonte de informação para a prática médica, mas como documentos históricos para conhecer como os médicos antigos cuidavam das pessoas e quais eram as idéias que guiavam suas ações (GUSMÃO, 2006).

A história da Medicina se identifica com a história da Humanidade. Do empirismo dos povos primitivos até as últimas descobertas do Nobel, a evolução da Medicina reproduz a evolução do pensamento humano. "Percorrer este longo caminho é como viver uma inesperada e fascinante aventura.” (PENSO, 1990).

O ensino da História da Medicina mudou ao longo do tempo. No final do século XIX, ensinava-se História da Medicina aos alunos de graduação para fornecer um sentido de continuidade com as tradições da profissão em tempos de mudanças tão rápidas. Na segunda metade do século XIX, a História da Medicina tornou-se uma disciplina crítica, com a colaboração interdisciplinar de historiadores, filologistas, filósofos e médicos (GUSMÃO, 2006).

A História da Medicina não se interessa apenas pela ação dos médicos, mas também pelas idéias que os guiaram. Ela estuda os sistemas de medicina mágico, religioso, filosófico, teológico e científico. As teorias médicas representam um aspecto da civilização de determinado período, e para compreende-las é necessário conhecer as outras manifestações desta civilização, como filosofia, literatura, arte e música (ibid).

No início do século XX, o ensino de História da Medicina passou cada vez mais a ser visto como uma dimensão importante do desenvolvimento profissional, intelectual e humanista de estudantes de medicina. Para Gusmão (2006), a História da Medicina, sendo uma disciplina histórica, usa os métodos gerais da pesquisa histórica comum a outras disciplinas históricas, mas é uma história especial, tendo também seus métodos próprios e seus problemas. Ela estuda a saúde e a doença através dos tempos, as condições para a saúde e a doença e a história das atividades humanas que têm por objetivo promover a saúde, prevenir as doenças e curar o doente.

Além disso, é um meio através dos quais , mudanças recentes e radicais na área da saúde podem ser vistas com a necessária perspectiva. Para todos os alunos, estudar o papel da ciência e da medicina na cultura e na sociedade contribui para a capacidade de pensar criticamente sobre como a ciência e não deve funcionar.

O conhecimento de que a medicina e as ciências médicas são fundamentalmente sociais é uma lição importante para o estudante de Medicina. Os alunos também aprendem que o conhecimento médico é objeto de mudança e é adquirida em contextos específicos. nos diferentes períodos históricos, como se refletem na arte de curar as doutrinas médicas e como, nestas, se representa a ideologia geral da época, suas concepções filosóficas e religiosas, produzindo-se a explicação da doença e, consequentemente, os métodos terapêuticos (ibid).

Mas há uma outra e muito mais fundamental benefício que pode resultar do ensino da História da Medicina na graduação. Esta é uma época em que os educadores médicos estão preocupados com aumento da necessidade de preparar estudantes de medicina para a sua profissão por uma maior ênfase na sua formação humanística.

A prática da medicina torna-se mais complexa a cada dia e também mais interdisciplinar, o que torna necessária uma coesa compreensão da literatura, história e filosofia em suas interfaces.

Um passo de cada vez, através de saltos de progresso e de obstáculos, o conhecimento médico da humanidade avançou de uma época em que nem o fluxo de sangue dentro do corpo era conhecido e as células não eram sequer um conceito, até a atualidade, quando transplantes de órgãos são realizados de forma sistemática.

Imagine-se que o surgimento de um instrumento simples que permitiu ao médico ouvir os batiemntos cardíacos foi um avanço profundo. Como a ciência médica foi capaz de fazer esta viagem extraordinária? Quais os principais descobrimentos tornaram possível as condições atuais de terapêutica médica? Quem foram as pessoas responsáveis por essas fascinantes descobertas?

História da Medicina é também Medicina, é uma forma de abordagem para compreender melhor a própria Medicina.

Na década de 1990, a História da Medicina foi ensinada em uma variedade de configurações. Em algumas escolas, a história foi integrada ao ensino das humanidades médicas. Em outras, passou a ser ministrada pelos próprios professores de Medicina (LEDERER et al., 1995).

É senso comum que um dos melhores métodos de expor um assunto é o método histórico. Abordar uma questão a partir do momento em que ela nasce, compreendendo as circunstâncias que a originaram, seguir sua evolução, conhecer os fatos e as razões que apóiam ou contradizem as diversas teorias que sobre ela foram emitidas... esta é uma ótima maneira de compreender a questão. A reconstituição do passado é fundamental para a formação da cultura humanística dos médicos, só que muitos deles não percebem isso.



Referências
CUNHA, N. Ciência, conhecimento e sociedade em Abel Salazar. Revista Portuguesa de Filosofia, 43 (3/4): 273-305, 1987.
GUSMÃO, S. História da Medicina: Importância e Evolução. 2006. Disponível em: http://www.sbhm.org.br./ Acesso em: 10 jul. 2010.
LEDERER, S. E; MORE, E. S.; HOWELL, J. D. Medical history in the undergraduate medical curriculum. Academic Medicine. 70 (9), 1995.
LICHTENTHALER, C. Histoire de la médecine. PAris: Fayard, 1978.
PENSO, G. Parassiti, microbi e contagi nella storia dell'umanità. Roma: Ciba-Geigy, 1990.



Fonte da ilustração desta postagem: abertura do weblog lusitano
http://bloghmed.blogspot.com/


sexta-feira, julho 16, 2010

XII Encontro Nacional das Entidades Médicas (ENEM)

Representantes de todos os Estados se reúnem para discutir a saúde brasileira.

Cerca de 500 representantes dos médicos de todo o Brasil participarão entre os dias 28 e 30 de julho do XII Encontro Nacional das Entidades Médicas (Enem), em Brasília. A reunião será um momento importante de avaliação das políticas públicas de saúde e também do contexto no qual se insere hoje a prática da Medicina. Nos grupos de trabalho e nas plenárias previstas, acontecerão debates e serão aprovadas propostas que contribuirão para o aperfeiçoamento da assistência à saúde, bem como a própria valorização do profissional.

Para as organizadoras do evento – Associação Médica Brasileira (AMB), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Federação Nacional dos Médicos (Fenam) - trata-se de uma oportunidade ímpar para quem pensa no futuro da saúde brasileira. “AMB, CFM e Fenam, instituições que representam os médicos brasileiros, terão oportunidade, por meio de amplo debate, de promover uma revisão de suas ações recentes, além de programar uma agenda comum que certamente trará mais visibilidade ao movimento médico nacional que defende melhorias no sistema de saúde oferecido à população e dignas condições de trabalho ao médico”, ressalta o presidente da Associação Médica Brasileira, José Luiz Gomes do Amaral.

Os resultados do XII Enem comporão documento que será encaminhado aos médicos, à sociedade, às autoridades e aos candidatos nas próximas eleições aos cargos majoritários (presidente, governador e senador) e proporcionais (deputados federal e estadual ou distrital). O Encontro acontece dentro de um momento político especial – o período pré-eleitoral – que o torna espaço privilegiado para discussão dos rumos a serem adotados pelo país no campo da Saúde (pública e privada). Os três presidenciáveis que encabeçam as pesquisas – Dilma Roussef, José Serra e Marina Silva – foram, inclusive, convidados a visitar o local das reuniões, na sede da Associação Médica de Brasília (AMBr), para apresentar suas plataformas para o setor e receber pessoalmente os pleitos dos profissionais.

Para o presidente do CFM, Roberto Luiz d`Avila, o XII Enem abrirá a oportunidade para que os médicos – representados por suas entidades – atuem de forma articulada e em sintonia para sensibilizar os tomadores de decisão sobre as mudanças que devem ser implementadas na área da saúde. “Os médicos têm o dever de se fazer ouvir também na cena política, especialmente quando o assunto é assistência. E os gestores precisam ouvir e acolher as recomendações, as sugestões, de quem é responsável pelo acolhimento dos pacientes e suas famílias em consultórios e hospitais. Estabelecer metas e definir políticas, ignorando essas contribuições pode ser desastroso para toda a sociedade”, alerta.

O XII Enem configura um fórum de alta representatividade do segmento médico no Brasil. Além de convidados e observadores, o plenário será formado por 400 delegados escolhidos pelos estados, distribuídos de forma paritária entre conselhos regionais de Medicina, associações e sociedades de especialistas e sindicatos médicos, além de representantes dos médicos residentes. Serão eles, os porta-vozes privilegiados da categoria no grande debate a ser realizado.

Três eixos temáticos orientarão a agenda de debates durante o XII Enem: formação médica; mercado de trabalho e remuneração; e SUS, políticas de saúde e relação com a sociedade. Em cada dia do Encontro, um desses tópicos será abordado por meio de conferências, mesas-redondas, trabalhos em grupo e debates (abaixo, confira a programação na íntegra). Durante o fórum de Brasília, os participantes poderão avaliar propostas levantadas durante os três encontros regionais (Pré-Enems) e alguns estaduais, que traduzem as expectativas e visões dos médicos que trabalham no atendimento à população.

O XII Enem foi precedido de etapas preparatórias que buscaram qualificar o debate e sistematizar as prioridades a serem levadas ao encontro nacional. Os Pré-Enems estaduais foram opcionais e muitos estados – como Bahia, Pará, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Sul – os realizaram. Os Pré-Enems regionais, por sua vez, foram divididos nos blocos Nordeste (29 de abril e 1º de maio), Sul/Sudeste (14 e 15 de maio) e Norte/Centro-Oeste (4 e 5 de junho).

O presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Cid Carvalhaes, destaca o Enem como uma grande oportunidade para ampliar as discussões e apresentar propostas para questões como formação do médico, fiscalização rigorosa das faculdades de medicina e fechamento das escolas médicas que não têm condições de funcionar, a defesa intransigente dos programas de residência médica, com eficiência e competência, a convalidação de diplomas de médicos formados em outros países e que precisam ser bem definidos, entre outros temas. Cid Carvalhaes cita ainda a realização do Enem como convergência do fortalecimento das entidades médicas nacionais - Fenem, CFM e AMB. “Todos esses e outros temas e propostas devem ser elencados em ordem de prioridade e quem vai fazer isso de fato é o Enem, evento no qual se pretende, com a Carta de Brasília (documento oficial do encontro), definir as prioridades e nortear as ações dos próximos três anos da política médica como um todo e a política de saúde para o país, do ponto de vista médico, dentro do enfoque das três entidades”, ressaltou Cid Carvalhaes.

PROGRAMAÇÃO

DIA 28 DE JULHO – QUARTA-FEIRA

8h30 – Credenciamento

9h às 10h30 – MESA 1: FORMAÇÃO MÉDICA

Escolas Médicas (sistema de avaliação, hospitais de ensino, abertura indiscriminada, necessidade social, currículo, exame de habilitação)

Residência Médica (médico generalista X médico especialista, ampliação de vagas, CNRM, “residência” multiprofissional)

Revalidação de diplomas (prova de habilitação, papel do MEC e das universidades públicas)

10h30 às 12h – Debates

12h às 13h – Almoço

13h às 15h – 10 Grupos de Trabalho sobre Formação Médica

15h às 15h30 – Intervalo

15h30 às 16h – Reunião das delegações das Entidades

16h às 18h - Plenária sobre Formação Médica

19h – Solenidade de Abertura



DIA 29 DE JULHO – QUINTA-FEIRA

9h às 10h30 – MESA 2: MERCADO DE TRABALHO E REMUNERAÇÃO

PCCV/Carreira de Estado/Carreira Pública (proposta PCCV-FENAM; PEC 454/09, sobre carreira de Estado; propostas do MS, salário mínimo profissional, serviço civil obrigatório)

Trabalho médico no SUS (precarização, terceirizações, contratualizações tabela SUS, código)

Trabalho médico na Saúde Suplementar (Papel da ANS, TISS, CBHPM; honorários; PLS 276/04, sobre contratualização obrigatória e reajuste anual)

10h30 às 12h – Debates

12h às 13h – Almoço

13h às 15h – Grupos de Trabalho sobre Mercado de Trabalho e Remuneração

15h às 15h30 – Intervalo

15h30 às 16h – Reunião das delegações das Entidades

16h às 18h - Plenária sobre Mercado de Trabalho e Remuneração



DIA 30 DE JULHO – SEXTA-FEIRA

9h às 10h30 – MESA 3: “SUS, POLÍTICAS DE SAÚDE E RELAÇÃO COM A SOCIEDADE”

Financiamento do SUS (regulamentação da emenda 29, subfinanciamento da saúde, relação entre o público e o privado)

Gestão do SUS (administração direta, cooperativas, fundações, OSCIP´s e OS´s)

A relação dos médicos com a sociedade (relação com a mídia, relação com o Judiciário, participação dos médicos no controle social)

10h30 às 11h30 – Debates

11h30 às 13h30 – Grupos de Trabalho sobre SUS e Políticas de Saúde

13h30 às 14h30 – Almoço

14h30 às 15h – Reunião das delegações das Entidades

15 às 16h30 – Plenária sobre SUS e Políticas de Saúde

Coordenador: Aloísio Tibiriçá Miranda – CFM

16h30 às 17h30 - MESA DE ENCERRAMENTO

Balanço do Encontro e aprovação da “Carta de Brasília”

Presidentes das Entidades Médicas Nacionais

14/07/10

Humaniza SUS - Cartilha sobre a Política Nacional de Humanização do SUS

A Humanização como política transversal na rede SUS

A Humanização vista não como programa, mas como política que
atravessa as diferentes ações e instâncias gestoras do SUS, implica:
- Traduzir os princípios do SUS em modos de operar dos diferentes
equipamentos e sujeitos da rede de saúde;
- Construir trocas solidárias e comprometidas com a dupla tarefa de
produção de saúde e produção de sujeitos;
- Oferecer um eixo articulador das práticas em saúde, destacando o
aspecto subjetivo nelas presente;
- Contagiar por atitudes e ações humanizadoras a rede do SUS,
incluindo gestores, trabalhadores da saúde e usuários.

Assim, entendemos Humanização como:
- Valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de
produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores;
- Fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos;
- Aumento do grau de co-responsabilidade na produção de saúde e de
sujeitos;
- Estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no
processo de gestão;
- Identificação das necessidades sociais de saúde;
- Mudança nos modelos de atenção e gestão dos processos de trabalho
tendo como foco as necessidades dos cidadãos e a produção de saúde;
- Compromisso com a ambiência, melhoria das condições de trabalho e
de atendimento.

Para isso, a Humanização do SUS se operacionaliza com:
- A troca e a construção de saberes;
- O trabalho em rede com equipes multiprofissionais;
- A identificação das necessidades, desejos e interesses dos diferentes
sujeitos do campo da saúde;
- O pacto entre os diferentes níveis de gestão do SUS (federal,
estadual e municipal), entre as diferentes instâncias de efetivação
das políticas públicas de saúde (instâncias da gestão e da atenção),
assim como entre gestores, trabalhadores e usuários desta rede;
- O resgate dos fundamentos básicos que norteiam as práticas de saúde no
SUS, reconhecendo os gestores, trabalhadores e usuários como sujeitos
ativos e protagonistas das ações de saúde;
- Construção de redes solidárias e interativas, participativas e
protagonistas do SUS

Clique e Leia a Cartilha na íntegra