UTI - Cuidado humanizado do paciente crítico.

sexta-feira, março 23, 2012

Avaliação de dexmedetomidina vs midazolam e vs propofol: é a medicação ou a estratégia que importa ?

"Dexmedetomidine vs Midazolam or Propofol for Sedation During Prolonged Mechanical Ventilation". Jakob SM, Ruokonen E, Grounds M, Sarapohja T, Garratt C, Pocock SJ, et al. JAMA 2012; 307:1151-60.
Saiu mais 1 estudo de comparação entre dexmedetomidina (DEX) e outros sedativos: midazolam (MDZ) e propofol (PRO). Neste estudo (na verdade, 2 em 1) randomizado e controlado, inclui-se pacientes que poderiam usar sedação leve, em ventilação mecânica (VM). O estudo foi conduzido em vários centros em 9 países europeus. Pacientes com menos de 24 horas de VM e insultos neurológicos graves foram excluídos. Quando tinham dor, os pacientes receberam fentanil em bolus. O objetivo era manter sedação no nível RASS 0 a -3. Muitos pacientes receberam estratégia de interrupção de sedativos - em torno de 90% dos pacientes (Kress et al, 2000).
Os resultados gerais mostraram pouca vantagem para DEX em relação aos outros dois. Como em outros estudos, o processo de desmame (tempo até extubação) foi menor com DEX em relação ao MDZ e PRO (cerca de 30% menor). O tempo total de VM não foi diferente nos dois estudos. DEX foi suspensa por falha no objetivo da sedação foi frequente com DEX (9-14% dos pacientes).
Pacientes com DEX tinham maior capacidade de acordar, atender comandos e se comunicar. Porém, hipotensão e bradicardia foram comuns no grupo DEX (14-20%).
Outras observações secundárias foram: menor incidência de polineuromiopatia no grupo DEX; não houve diferença de eventos neurocognitivos (agitação, ansiedade e delirium) entre DEX e MDZ no follow-up até 45 dias, mas foi menor DEX vs PRO; nos dois estudos não teve diferença na necessidade de reinício de sedação por conta de agitação ou ansiedade ou delirium.
Ainda coloco algumas observações. Primeiramente, de mais de 8 mil pacientes em VM, apenas 5% eram recrutáveis para o estudo (exclusão de 95% dos pacientes elegíveis). Isto limita muito a escolha destas estratégias. Este estudo reforça a ideia de que a estratégia de manuseio de sedativos, em vez da escolha de uma ou outra droga, é mais importante para os desfechos tempo e mortalidade. Ou seja, a maneira da equipe lidar com sedação/analgesia/delirium muda muito mais o tempo de VM ou de hospitalização, e mesmo de mortalidade, que usar uma determinada medicação.
Mais uma demonstração que mudar o comportamento humano é difícil, mas impactante se a estratégia correta for adotada.

Fonte: André Japiassú – Artigos Comentados em Medicina Intensiva

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