UTI - Cuidado humanizado do paciente crítico.

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Delirium em debate

O tema Delirium tem sido muito discutido pelos profissionais que atuam nas Unidades de Terapia Intensiva. Isso porque acomete quase 80% dos pacientes internados e suas sequelas são preocupantes. O Dr. José Mario Teles (BA) foi um dos palestrantes do II Simpósio Pós-SCCM que abordou o tema. Em entrevista ao BE, foi mais além e nos apresentou um resumo de alguns importante tópicos abordados no 39Th Critical Care Congress, em Miami. Disse que o Dr. Pratik Pandharipande, em sua apresentação intitulada Delirium: a proposta de "evento zero" é realística?, afirmou que a caracterização do Delirium e a uniformização da ferramenta diagnóstica são essenciais, pois recomenda-se que o tratamento farmacológico só deva ser iniciado quando as causas predisponentes reversíveis tenham sido neutralizadas.

A palestrante americano, reforçou que na patogenia estão envolvidos diversos mecanismos, ainda não completamente esclarecidos, mas que englobam inflamação e seus mediadores, ação de diversos neurotransmissores e produção de metabólitos do triptofano. Entre os fatores de risco mais importantes, destacam-se a idade avançada, distúrbios metabólicos, hipoxemia, uso de medicações sedativas e privação do sono.

O uso de sedativos, benzodiazepínicos e opiáceos, drogas amplamente utilizadas em pacientes gravemente enfermos, estão fortemente associados com o desenvolvimento de delirium. A proposta para tornar o delirium em um evento de "ocorrência zero", segundo nos informou o Dr, José Mario Teles, começa respondendo a algumas questões específicas sobre o uso de drogas sedativas e analgésicas:

a) "aonde o paciente está indo?", ou seja, qual o nível de escala de sedação alvo aplicado;
b) "onde está agora?" ou qual o nível de sedação real do paciente no momento;
c) "onde está agora em relação ao delirium?" ou qual o resultado da avaliação de delirium por meio das duas ferramentas validadas para diagnóstico desta entidade em pacientes gravemente enfermos (CAM-ICU e Intensive Care Delirium Screening Checklist); e "como chegou aqui?" ou quais as causas predisponentes reversíveis de delirium (principalmente drogas).

Resumidamente, as propostas são: tenha um plano e use protocolos de sedação e analgesia guiados por alvos específicos; utilize o conceito "menos é mais", por isso, interrompa diariamente a sedação para permitir despertar e respiração espontânea; e evite benzodiazepínicos e use sedativos alternativos. O Dr. Pratik, assim como o Dr. José Mario Teles, encerrou a sua apresentação apontando os progressos até aqui alcançados em relação ao delirium, como o aumento do reconhecimento, pelos intensivistas, desta entidade, o desenvolvimento de melhores ferramentas de monitorização do delirium à beira do leito, a identificação dos fatores de risco e dos potenciais mecanismos, a perspectiva de benefício na utilização de intervenções não farmacológicas, como a mobilização precoce e, por fim, a conscientização de que as drogas benzodiazepínicas têm um papel relevante no desenvolvimento do delirium e que evitar o uso de tais medicações, sempre que possível, é uma opção acertada. "Aqui no Brasil, precisamos investir cada vez mais em pesquisas, porque é algo que preocupa muito a comunidade da Medicina Intensiva", finaliza Dr. José Mario Teles.


Fonte: AMIB - http://www.amib.org.br/noticias.asp?cod_site=0&id_noticia=504&keyword=Delirium_em_debate

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